sábado, 27 de agosto de 2011

Um conto sobre os Perpétuos...






Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Delírio e Desespero...

Durante um longo tempo, busquei incessantemente por um dos sete, ela, que é temida por muitos, mas também, aclamada como uma musa pelas almas menos afortunadas como a minha, seu nome... Morte, Morte dos Perpétuos, bela, sutil, elegante, tentar descrevê-la poeticamente é infrutífero e entendê-la é insensato.

Por duas vezes eu a encontrei, estive em seus braços gélidos e confortantes, senti sua presença bem próxima a mim, mas ela se recusou a me levar até seu reino onde todas as almas encontram o descanso final para seus tormentos; e foi assim que conheci uma de suas irmãs, a que ficaria comigo no decorrer da minha "vida", ela tinha por nome Desespero.

Tudo começou com a intervenção de Desejo, há muito, muito tempo atrás, mas ela não agiu sozinha, havia um toque de Destino, o mais antigo e cruel entre os sete, e por vontade de Destino, eu nasci... Deveriam ter me matado! Me abortado! Seria menos doloroso do que esta patética existência na qual me encontro neste momento... Doce morte!

Eu sempre fui uma criança problemática, solitária e angustiada, cresci sendo julgado como um estranha por pessoas que me olhavam com desprezo, na verdade quase sempre incompreendida, uma única pessoa me compreendeu profundamente, mas ainda não é hora de falar sobre ele. Durante longos anos, Desespero foi minha fiel companheira, sempre ao meu lado onde quer que eu caminhasse, eu a via em meus olhos, refletida em cada espelho e me acostumei com sua fria presença, depois de anos você acaba se acostumando, e como uma dádiva maldita ela me mostrou cada face, cada parte sua, cada janela e porta de seu mundo a cada monótono dia, os dias...

Dias são como sonhos perdidos, caindo no esquecimento letárgico, cada minuto fere, o último mata, amo estas palavras! Mais um dia vazio e completamente sem sentido algo se passou e então o sol se pôs e sei que ele se porá novamente amanhã, isto é tão certo como minhas súplicas. Talvez eu não esteja mais aqui para ver a noite jogar seu negro manto sobre nós e com o pálido encanto da lua, a paz voltar momentaneamente a meu cansado ser.

Se eu não estiver mais aqui para vê-la, ai talvez os sonhos ruins me abandonem para sempre... Ou talvez eu nunca mais volte a sonhar um sonho que há muito perdi, mas o que seria pior? Não sei, gostaria que houvesse uma resposta para cada pergunta que nunca tive coragem de fazer, mas infelizmente eu não as tenho e ninguém nunca terá controle algum sobre seu mais mísero Desejo... As coisas seriam melhores se tivéssemos? Apenas dúvidas hipoteticamente infundadas de minha pobre mente.

Me disseram que nenhum ser humano poderia acordar todos os dias para plantar espinhos nos jardins de sua alma... Sábias palavras! Neste momento de minha vida, percorro um labirinto de rosas mortas, caminhando entre os espinhos, neste jardim de seres mórbidos que habitam minha alma, não tenho mais forças para encontrar a saída deste imenso emaranhado de sentimentos que me invadem a todo momento e assim vou vagando, tentando viver, conviver com meus erros, medos e pecados, acompanhado apenas pela sombra do que um dia eu fui. Esta lembrança faz brotar uma lágrima em meus olhos, e que tão logo percorre o abismo de minha face. Tento me recordar de um toque e o tempo parece eterno entre o rolar de uma lágrima e a lembrança de um sorriso, e me perco neste momento... Mas a realidade é outra e ela logo se mostra.

A vida tem um senso de humor doentio e muitas vezes nos mostra uma face grotesca demais para ser refletida, um fardo demasiadamente pesado para um só homem suportar, digerir e no final, isso é tudo o que sou, defeituosa, imperfeita, apenas uma mulher em busca de respostas, respostas para as perguntas que nunca foram feitas... Estarei enlouquecendo?

Talvez eu nunca saiba. E tudo o que tenho são lembranças, recordações que se perdem a todo momento nos cantos semi-iluminados de meu quarto onde as paredes úmidas servem como confidentes de minhas eternas lamentações, meu mundo, minha prisão. Na maioria das vezes nem mesmo as paredes me confortam; e assim saio pela noite, noites perfeitamente criadas para as almas suplicantes vagarem em busca de redenção para seus crimes e pecados; é exatamente por isso que caminho sem rumo algum por elas... Redenção! Agora tenho medo... Medo daquele lugar no qual eu sempre vou para tentar esquecer, tentar apagar minha dor, lá eu escuto o silêncio, como sons vindos de um outro plano, um outro mundo profano que eu criei apenas para sentenciar-me, um plano, onde o silêncio me toma.
  (( Já não falo com mais ninguém e aquilo que ensaio repetir, não pode mais ser dito, porque lá não há ninguém e lá eu não falarei. Me sento, solitário e silenciosamente num canto escuro de minha alma, e do lado de fora, escuto um lago de luz, alguém que fala de vez em quando, pedindo-me para dividir minhas dores, mas não há mais esperança, porque não há ninguém lá... Desespero toca meu rosto, adormeço o tempo para aturar a dor, já não consigo mais ter fôlego no mundo real e assim, me refugio no Reino dos Sonhos, agarro meus medos e os diluo com lágrimas, pinto teus olhos, escrevo tuas palavras e é assim que mantenho vivas as minhas mais doces lembranças, de tempos que jamais voltarão. ))

Continua...


                                                              †Devaneio† 
 
                            E me sinto hoje forte, pois morri a vida para viver a morte† 


                                       ( Filha de Morpheu e seus Devaneios )

       

2 comentários:

  1. Agarro meus medos e os diluo com lágrimas.. Lindo!! Maravilhoso!!
    diz-me
    da tua inspiração.
    Passei para deixar um beijo d'anjo noutro anjo:)
    Sabes o que me faz lembrar...Saudades!!

    ResponderExcluir
  2. O tempo é como o vento...leva as nuvens e deixa os sonhos que perduram para além do tempo...em imagens que acendem todas as lembranças...que guardam todos os silêncios onde gravámos todos os passos...( Eu que não sei nada, ainda ontem acordei para o mundo...espero sinceramente que te mantenhas "insana"...)
    Vou usar as palavras do amigo.
    Volte "Doce Criança"...

    ResponderExcluir

...incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si mesma. Se fosse criatura que se exprime diria: O mundo é fora de mim, eu sou fora do mundo. - A Hora da Estrela de Clarice Lispector-

* Por favor... Se utilizar a opção de postagem "anônima" não siga ao pé da letra...Deixe seu nome..:)
Obrigada!!!